Bruno Peron
Reivindicações coletivas emergem de vários lugares do Brasil a favor de mudanças que favoreçam grupos esquecidos, minoritários e excluídos. Movimentos sociais têm convocado milhares de pessoas para pedir melhoras em serviços oferecidos pelo governo e para protestar contra malversação de dinheiro público. Multidões foram às ruas em junho de 2013 e protestos novamente tomaram corpo em maio e junho de 2014. Enfatizo as contrariedades de inclusão social e que muitas destas demandas criticam as dificuldades de acesso a bens e serviços.
E fazem-no com razão. Num país onde o setor produtivo tira das maiorias para dar às minorias sem jamais dividir o tal do “bolo” que cresce, é urgente repensar nos usos dos termos “acesso” e “inclusão”. Um e outro convidam a reflexões que revelam misérias ideológicas e tendências capciosas no Brasil. Ofereço argumentos sobre etnia, Educação, tecnologia e saúde.
O primeiro argumento é sobre o aspecto étnico. Este tem causa centrífuga e efeito centrípeto. Refiro-me às políticas de ações afirmativas no Brasil para aqueles que o Estado considera nossos únicos afrodescendentes. Primeiro tais políticas excluem todos os “negros” para, em seguida, incluir somente alguns deles onde for conveniente. Mas, num país em que pessoas de pele clara jogam capoeira e praticam umbanda, é difícil conceber que o Estado defina essências étnicas com base em termos escravistas (o “negro”, o “quilombola”) para formular suas políticas em vez de promover manifestações culturais diversas de pessoas que são simplesmente brasileiras.
Tão deturpada é a visão de estadistas no Brasil que creem que somente o aumento do orçamento resolverá o problema da Educação no Brasil. Decerto um engano, ao contrário do que pensam professores grevistas que reivindicam aumento de seus salários. Há um discurso ardiloso de que os brasileiros precisam de MAIS Educação quando, em realidade, eles precisam de OUTRA Educação. Portanto nosso orçamento de Educação escoa por um duto neocolonial que desemboca no financiamento de universidades estrangeiras (programa Ciência sem Fronteiras) e livros didático-idólatras sobre heróis que “conquistaram” e “civilizaram” a América. Somos educados desde cedo nas escolas com uma bobagem após a outra. Por isso é sábia a recomendação de Paulo Freire de que nos libertemos através da busca ativa de conhecimento num meio em que – agrego eu – os meios de comunicação nos emparvoecem de cultura oral.
Assim esses meios nos incluem num mundo de fantasias onde o ter é preferível ao ser e onde se estimulam sonhos com realizações materiais. Foi nas “lan houses” ou “café Internets” que os excluídos foram também aceitos no mundo dos sonhos. Mas entre a inclusão neste mundo onírico e a posse daquilo que se promete (e.g. “smart phones”, “tablets”) há uma distância. A evolução técnica culmina no Facebook, ambiente virtual onde corporações exploram sem cobrar para obter as páginas dos livros da vida que se publicam inconsequentemente em prol das aparências.
Por fim, proponho um debate sobre a inclusão de deficientes físicos que, ao contrário do que se diz, amontoam-se em casas onde eles se reúnem somente entre eles. Portanto isso não é inclusão. Algo diferente aconteceria se pessoas com algum tipo de deficiência física se incluíssem entre aquelas que têm condições físicas plenas. Assim todos nadariam na mesma piscina, jogariam na mesma quadra e estudariam na mesma escola com auxílio de monitores e professores.
Estas ideias sobre “acesso” e “inclusão” exigem mudança de mentalidades principalmente daqueles que fazem políticas públicas. Para isso, é preciso conhecer a fundo o Brasil, sua gente e suas carências (já que “necessidades” são tão relativas!). Caso contrário, continuaremos a traficar ideias racistas, iludir nossa Educação, prometer consumismos e excluir deficientes físicos.
Chega de direitos que acomodam nossas esperanças!
Queremos deveres com os quais ergueremos o Brasil!
Você, leitor, também lutará por deveres que incluam?