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A Dra. Priscilla Souza, psicóloga e deficiente física, explica os problemas que o mercado profissional impõe aos deficientes

A inserção no meio profissional é uma questão enfrentada diariamente por deficientes físicos no Brasil e envolve situações que vão além do fato de ser ou não ser contratado. Segundo a lei nº 8213 de 1991, todas as empresas que possuem um número superior ao de 100 funcionários devem destinar entre 2% e 5% dessas vagas a pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Essa medida aparece como uma alternativa para aumentar a diversidade no âmbito trabalhista, porém, a Dra Priscilla Souza, deficiente física e com experiência como consultora de RH em empresas, alerta sobre alguns pontos dessa suposta diversidade.

Para a doutora essa questão pode ser destrinchada em diferentes âmbitos. No espaço judicial, com o criação da lei em 1991, um passo já foi dado mas segundo Priscilla, também possui um lado ruim: "Tem o lado bom porque as pessoas têm a oportunidade de trabalho que não teriam se não fosse a cota e o lado ruim que é descer ‘goela abaixo’ dos donos e dos RHs das empresas essa obrigação" afirma a profissional.

Outro aspecto importante é a estrutura do ambiente de trabalho. É importante que as empresas não só contratem pessoas com diversidade funcional mas também deem ferramentas e condições de trabalho para tais. Muitos lugares já excluem o deficiente do processo seletivo logo no começo, ao pensar que um funcionário com suas capacidades afetadas vai "dar muito trabalho" ou exigir muita ajuda de seus companheiros de profissão.

A questão de estrutura pode ser observada em pequenas situações do cotidiano. Em alguns casos até a altura da mesa do funcionário pode ser um empecilho, a presença de rampas e elevadores também se faz inegociável para deficientes, pode até acontecer de não haver banheiro adaptado no local. Justamente sobre essa questão de ferramentas adequadas de trabalho que entra outro tópico importante na discussão: o currículo.

O currículo é, talvez, o maior diferencial de alguém no momento de procurar emprego e para os portadores de deficiência não é diferente, porém é importante levantar o debate da inclusão ou não da informação PCD no documento. O senso comum entende que é necessário que o deficiente avise de suas questões deficitárias, até para que a empresa se prepare para recebê-lo, mas, para alguns deficientes isso pode soar um pouco invasivo ou até mesmo desrespeitoso.

A Dra. Priscilla conta: "se a gente for analisar de maneira crua, não se deveria colocar que é deficiente no currículo porque ali é o momento onde se coloca o que tem de melhor e o contratante, ao notar que é um deficiente, pode já excluir do processo seletivo ali", e completa ressaltando que colocar que essa especificação logo no começo não é o adequado, “eu particularmente colocaria que sou PCD, mas, essa informação apareceria mais para o final, para não dar muito importância a essa questão”.

A profissional acredita que o home office pode ser uma alternativa interessante para as empresas contratarem deficientes e também “oferecerem” uma estrutura decente para trabalho, já que, na sua própria residência o portador de deficiência já está adaptado e com condições ideais de exercer suas funções.

Por fim, Priscilla defende a dedicação da classe deficiente no mercado de trabalho e explica que muitas vezes, por conta de pré-julgamentos, essas pessoas têm que trabalhar muito mais que os outros, para provar o seu valor. Também é comum, os trabalhadores nas empresas se surpreenderem com o rendimento daquele portador de deficiência, pelo simples fato dele conseguir realizar as tarefas normalmente.

Apesar de quase 30 anos da lei de cotas para deficientes em empresas dos mais variados tamanhos, os deficientes ainda enfrentam problemas para se ver ativo no mercado de trabalho. Segundo o IBGE, quase 24% da população brasileira possui alguma deficiência, totalizando 45 milhões de cidadãos, porém, segundo a Agência Brasil apenas 56% das vagas, que originalmente seriam destinadas a pessoas com diversidades funcionais, realmente estão ocupadas por pessoas que possuem esse direito.

 


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